sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Amadurecência

Excel aberto. Cêntimo por Cêntimo nos dedos.
Agora sou dono de casa, e pior, dono de mim. Comecei a me controlar em tudo.
No euro, no volume do som, na cueca* no banheiro...
Meu amigo brinca que estamos vivendo uma espécie de big brother. E de facto consiste realmente nisto. Confinamento com uma grande cultura diferente, falta de contacto com a família, saudades, descobertas, pressão psicológica... e no final um milhão de experiências.
Espero o voto de cada um para continuar aqui.
Ultimamente estive emparedado.
Mas uma coisa que estou realmente aprendendo aqui é a ter responsabilidades e saber agir rápido e consciente.
Esta semana foi muito agitada, entre algumas datas comemorativas daqui.
Tenho que ler alguns livros ainda para esta semana. A grande parte do material que temos é em outra língua - inglês ou francês. «Conhecimento UNIVERSitário... UNIVERSAL...» explica a professora. Do jeito que as aulas andam, vou aprender francês por osmose.
E é isto que eu quero. Novas experiências. Aprender uma nova língua, um novo desporto, tocar um novo instrumento...

Frum PiiIM ZumM FIIII FIIII FRIMMMMMzZ SHSsz...
Aguentem, pois ainda tenho mais ar.

-
*Cueca é uma peça da indumentária tradicionalmente masculina, usada para cobrir e proteger os órgãos sexuais. Em Portugal, no entanto, usa-se esta palavra, normalmente no plural ou diminutivo, para referir igualmente o modelo correspondente para mulheres que, no Brasil e em Moçambique, é denominado calcinha. (Wikipédia)

Meu amigo brasileiro comprou um saco de "cuecas", só em casa ele veio perceber que estava entrando na bunda demais! Hahaha.

Sempre digo que vou escrever sobre as diferenças linguísticas e não escrevo... Mas em breve eu escrevo, promessa, é que eu tambem ainda estou entendendo... vem aí uma série de micos...

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Lusitando #2

domingo, 24 de outubro de 2010

5º Domingo (Na onda portuguesa)



Talvez esse seja o domingo mais agitado até então.
Acordamos cedo, a neblina ainda cobria toda a cidade, e descemos até a estação.
Nosso primeiro destino: Figueira da Foz. Mas por força do acaso - e da poesia - fomos então levados a Aveiro.
O balanço do comboio me agitou.
Era o balanço da música; Aveiro.
Há em Portugal uma beleza que eu admiro, uma beleza na simplicidade. A beleza das pequenas casas, dos rios quase sem cores, dos barcos pintados por pescadores e não por grande mestres da pintura...
Aveiro me encantou. A sincronia dos barcos. Os doces. O reflexo de tudo. A Barra.
Aveiro é música.
Os barcos na Ria. E depois o grande mar. Onde desagua todo os rios. Todos os risos...
Hey, Jude , you aren't stone bad,
take a sad song and make it better
...
For well you know that it's a fool,
who plays it cool,
by making his world a little colder.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Ai! Portugal, ovos moles, Coimbra...

Um mês.
Apenas 30 dias e a saudade é imensa. Não só a saudade sentimental, começa aqui a falta biológica...

..x.x..
Ai, batatas! Não tem farinha?!

Todo estudante quando sai de casa sente a grande saudade da comida da mãe. Bom, minha mãe nunca cozinhou bem, não aquela comida tradicional brasileira, o que ela faz de melhor é o que eu encontro aqui. Não tenho saudade da comida de casa. Talvez a adaptação alimentar foi uma das tarefas mais fáceis, até gostei. Ganhei 4 kg só neste mês.
Sai do Brasil com um grande medo quanto ao cardápio português. Odeio bacalhau, ovos, sardinhas e pizza portuguesa. E como toda cultura diferente ver as outras em cima dos estereótipos, para mim, só encontraria isto por aqui. Mito.
Toda refeição aqui ocorre com uma entrada (caldos/sopas e pães), o prato principal (batata, arroz, acompanhadas, em geral, de carne suína - carne bovina aqui é luxo - e, poucas vezes peixe), e uma sobremesa (ai sim, puro ovos moles! Doces feito com ovos, eca ! - pela primeira vez a sobremesa não é o que mais me agrada) .
Contudo, uma adaptação à refeição não só implica no cardápio. O modo de se sentar e comportar na mesa, a quantidade da comida, os talheres... são diferentes, e , de qualquer modo, devo me adaptar à eles...

Uma maneira de matar a saudade da comida brasileira é cozinha-la. Eu e meus amigos estamos nos dedicando os finais de semana à culinária - e não somos nada bons. Mas, até mesmo cozinhar aqui é diferente... os legumes, os produtos alimentícios todos tem um gosto e textura diferente, e, como dito em outro post, as classificações que eles fazem também são diferentes, por exemplo, aqui o leite é dividido em "Magro", "Meio Gordo" e "Gordo".
Primeira semana eu comprei o "magro", daqui há uns dias vou tá no "meio gordo"... volto pro Brasil bebendo o "gordo", hahaha. Ai, Portugal....



domingo, 17 de outubro de 2010

Uma visão estrangeira.


Parece que quem tá de fora do xadrez acaba tendo uma melhor visão do jogo.
Ultimamente, tenho visto Brasil daqui de cima, a partir das ideias de outra cultura - uma visão estrangeira da terra natal.
No dia das eleições entrei no twitter e fui surpreendido com os Trending Topics, #ManchaVerde e #Marina. Depois, como já previsto, nada aconteceu.
É uma pena que as novas revoluções brasileira só acontecem na Internet - os #ForasFulanos, #FicaCiclanos. Nada mais sai do papel. Queremos mudar o mundo transformando as ideias em tags e não em acção.
O que me conforta é que ainda há a vontade de mudar, o espírito revolucionário brasileiro esta vivo.
A visão politica de alguns portugueses sobre o Brasil é das melhores, conversando com um deles, ele concluiu que o Brasil era mais justo, livre... É realmente uma visão poética do país do carnaval. Não vejo justiça e liberdade enquanto existe grande parte da população passando fome e sem direito à educação, e outra parcela fazendo #tags para isto mudar.
As cicatrizes de uma colonização perversa.(?)
De outro lado, culturalmente, parece que o Brasil colonizou Portugal. Nas lojas de discos, de livros e roupas, o Brasil leva uma sessão especial. Os artistas brasileiros são super valorizados, e, no sistema capitalista, que move o mundo, isso aparece nos valores monetários dos produtos brasileiros... O cd de Caetano é o mais caro do estoque, e fica lá, na secção "Musicas brasileiras" que ocupa duas prateleiras de toda a loja...



"E vamos embarcar de novo / Nas novas caravelas /Vamos dominar o mundo/ Só que de um modo mais belo."
(Portuga - Cazuza)

domingo, 10 de outubro de 2010

Lusitando #1



What do I do when my love is away? / (does it worry you to be alone?) / How do I feel by the end of the day? / (are you sad because you’re on your own?)

No, I get by with a little help from my friends.

Aeminium

A proposta do blog, é mais que um registro, é compartilhar todas minhas aventuras nesta terra desconhecida.
Contudo, no meio das grandes novidades, fica apertado e difícil, por vezes, escrever aqui.
Esta semana, depois de uma aula extra de História das Artes, que abordava a história de Coimbra, eu sai pela cidade com um novo olhar... um olhar de historiador... Cada pedra aqui tem uma história milenar para contar. Pisamos, literalmente, em pura história. E algumas dessas histórias estão sendo descobertas agora... Fiquei apaixonado pelo mosteiro de Santa Clara-a-Velha, uma construção do século XIII, que foi engolida ao longo dos anos pelo Rio Mondego, e só há menos de 20 anos vem sido preservada e valorizada. Lá é mágico e sobrenatural, parece que a qualquer momento uma freira vai passar pelas ruínas do corredor assobiando um dos seus cânticos.
Assim também como o Museu Machado de Castro, que em seu subsolo, tem uma construção de aproximadamente do século IV, ainda quando aqui era uma cidade do Império Romano - Aeminium.
E mais que história, pura arte.
Por volta das 19 horas, o sol parece reacender toda a história da cidade. Tudo fica em tons de sépia.


Da minha janela: Aeminium, século IV d.C ás 19 horas

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Então aqui é a Europa?

Como todo sul-americano, ou do âmbito artístico, eu tenho uma visão muito poética sobre a Europa.
Bom, conheço apenas um pontinho da grandeza deste continente. Contudo, dedico este post às minhas decepções...
A minha primeira e grande decepção foi o vinho português... Talvez não tenha um paladar apurado para apreciar esses vinhos, mas fiquei indignado... eles só vendem vinho seco... não existe a classificação de "suave"...
Nesta mesma área, o tradicional pão dos padeiros portugueses parecem chicletes... e a pizza leva a mesma massa...
Não ter lixo no chão é um mito. Do outro lado do rio Mondego as ruas são sujas e tem sempre cocô de cachorro na calçada...
E, o que pode ser observado com um ponto positivo, mas não para mim, é a inocência, mentalidade quase medieval (quando se trata de religião) e conservadora dos portugueses...

Bom, na verdade o ar superior da Europa sempre vai ser uma realidade. Me atrevo a falar mal para mostrar que ainda sou brasileiro... que como, bebo, depois cuspo no prato.

Do alto, cuspindo nos europeus... rá!

domingo, 3 de outubro de 2010

Segundo Domingo

abro a janela, e o filme começa a rodar...


Ontem foi o show do U2 aqui, e estávamos a acompanhar toda a movimentação.
Coimbra, por mais desenvolvida que seja, é uma cidade do interior. E um evento deste movimentou toda a cidade.
Era sábado, mas com cara da visão poética de um domingo. O domingo real só acontece no sábado... Sol, Caminhada no Parque, Crianças correndo...
Aproveitamos todo embalo e caímos na rua. Uma volta por toda a cidade, ou melhor, pela parte marginal da cidade.
A parte suja da cidade é que me interessa, fora dos cartões postais, entre vielas e os limites da cidade. Nesta expedição, atravessamos as três pontes que cortam o rio Mondego, descobrimos animais desconhecidos... Ao anoitecer seguimos toda a cidade até o concerto do U2...
Agitados, voltamos para casa e dormimos tarde demais... Horas tocando músicas com cara do Brasil - ou com cara de quem ficou por lá.
A saudade veio como chuva na manhã de domingo.
Era a primeira vez, depois de nossa chegada, que chovia realmente em Coimbra.
Abri a janela, a rua estreita era protegida pelos casarões antigos, a chuva batia nos telhados vermelhos e escorria pela ladeira. Pura Poesia.

Lar


Estamos já há alguns dias em Coimbra, e, talvez pelas semelhanças arquitectónicas da cidade e pelo clima, parece que estamos em uma cidade do interior da Bahia.
Contudo, no plano social, económico e cultural, Portugal e Brasil não só estão separados pelo oceano Atlântico, são anos de desenvolvimentos que separam as duas nações.
Encontramos o conforto de chegar no outono, na língua mãe, na terra madrasta. E, diferente do que haviam informados, os portugueses foram bem receptivos - na ponta da língua, um português impecável, com conjugações corretas, advérbios e virgulas, para dar informações, que, por hora, as palavras confundiam-se em meus ouvidos, e eu me pedia na metade das frases. Não falo português. Falo baianês, meu rei.
Na primeira semana já tinha ARRENDADO UM APARTADO MOBILADO, com mais cinco amigos,e mais uma semelhança brasileira... a movimentação na casa, as malas e livros pelo chão, remeteu à minhas férias na ilha, com toda família.
Talvez tudo isto explique os inumeroso dejavus que eu tive, ou seja apenas muitos filmes europeus...
Coimbra é uma cidade totalmente aberta, não existe uma população nativa grande, são inúmeros estudantes estrangeiros, que, como eu, escalam as ladeiras até a Universidade. Existem vários brasileiros na mesma embrenhada por aqui, e apesar de não existir um estereótipo brasileiro (já que ninguém sai na rua vestido de capoeirista ou fantasiados para escola de samba), é muito fácil distinguir um brasileiro, não só pelo sotaque...

E então, fico com o pulmão aberto ao ar europeu.