terça-feira, 28 de setembro de 2010

O Olimpo


Diariamente somos surpreendidos no pátio da faculdade por uma massa de turistas entretidos com suas câmaras. Curiosamente, a Universidade de Coimbra também é um dos pontos turísticos da cidade… E não só ela... a lente das câmaras estrangeiras estão sempre voltadas para os estudantes, os veteranos, que vestem uma farda preta chamado de Toga, o que me lembra Harry Potter, e desfilam pela cidade pregando praxe nos caloiros.
Meus olhos também estão direccionados para lá.
A Universidade é um grande compartimento, de estilo Clássico, que guarda todo o conhecimento do mundo. É incrível, existem arquivos raros e únicos espalhados pelas grandes estantes das inúmeras salas. As aulas são mágicas, e num piscar de olhos perco inúmeras informações. Estou sempre de olhos abertos, vidrados... nos livros, nas enciclopédias ambulantes, os grandes mestres...
Parece acontecer por aqui uma espécie de Renascimento Pós-Moderno, umas massa intelectual que compartilham conhecimentos secretos. Na aula de História da Fotografia, uma das quais mais me encanta, descobri que teremos acesso à originais obras do inicio da fotografia.... Daguerreotipos, câmaras escuras, caderno de anotações... Existem conteúdos que só tem acesso aqui.

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domingo, 26 de setembro de 2010

Primeiro Domingo

Hoje é o nosso sétimo dia em terras portuguesas, justamente um domingo. E como domingo é domingo em qualquer lugar do planeta, estamos trancados em casa, na maior preguiça tediosa, com vontade de sair, mas sem ter para onde e porque.
Hoje iremos comer feijão, feijão aqui é comida especial, refeição dominicana.
Ainda não tive tempo de conhecer os pontos turísticos da cidade, apenas alguns que estavam incluídos nos roteiros diários entre a Universidade e casa.
Não me sinto estrangeiro, nem muito menos daqui. Estou sempre perdido. Minha nação é o mundo.

Alinhar ao centroonde fica a saída?

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Primeira Impressão (ou uma Tela Impressionista)


A cidade acorda coberta por uma neblina quase sólida. As casas se tornam invisíveis. Por volta das nove da manhã o sol parece realmente despertar e invadir as ladeiras da cidadezinha dividida pelo rio. E aos poucos, a neblina vai abrindo-se, como uma cortina de teatro, dando espaço ao espectáculo do quotidiano coimbriense, no topo do morro, o Olimpo: Universidade de Coimbra, o espaço dos deuses da sabedoria, que com toda grandeza e imponência parece esmagar a ignorância da pequena cidade.
As árvores sincronizadamente balançam, os pombos dividem a pequena calçada com as pessoas e carros antigos, todos sabem o seu papel.
Se eu fosse pintar Coimbra, sem dúvida seria da mais pura aguarela.
Tudo aqui cheira a Monet e Lautrec, como toda a Europa.
Aqui é uma grande tela impressionista. As mulheres com seus vestidos, os rapazes com cigarros, os cães com coleiras vermelhas andando livremente…
Pela noite, o frio das ruas é cortado pelo jazz. O Grande Baile Livre dos Semi-Mascarados das Ruas de Coimbra.
Eles bebem um liquido cor de xixi, devido ao frio. Eu me rendo ao vinho barato e gelado português, que é tradicional aqui, e por sinal é de minha tradição também.
Por volta das 21 horas a noite chega, sem por do sol, apenas o crepúsculo, depois o escurecer.
A neblina começa a tomar o lugar das pessoas nas ruas, como fantasmas.
As cortinas se fecham.
Aplausos.


uma peça teatral de Monet.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

A chegada

Esta viagem para mim é uma grande navegação de conquistas e descobertas. Dentre as novidades, a viagem de avião me pareceu muito tediosa e cansativa. No meu ponto máximo aventureiro, fiquei sentado por 10 horas seguidas, esperando turbulências e possíveis quedas. E nada. A única diversão foi assistir, pela terceira vez, É Proibido Fumar.
O escuro do visor da janela deu espaço as letras de Sérgio Buarque; Raízes do Brasil, na capa a famosa tela de Tarsila. O primeiro capítulo era dedicado à herança cultural portuguesa. Engraçado, neste momento Portugal não esta como minha raiz. Portugal são galhos já carregados de frutos doces e desconhecidos.
Me perco mais uma vez no escuro da janela. Uma parte minha agora se encontra acima da Linha do Equador. O mundo é realmente oval e gira.
Lá no fundo do escuro, chamo de escuro pois não consigo distinguir se é puro preto ou azul escuro, começam a aparecer pequenas luzes, autenticas luzes europeias.
Lisboa nos esperava com um céu azul anil das 5 horas da matina, quase lilás. Pegamos um táxi até a estação de trem, quase mágica. O dia ia nascendo sobre os arcos de vidro, e as primeiras pessoas começavam a circular junto aos pombos. O letreiro me avisava: +18ºC
Vagão 32.
O trem ia em direcção ao frio.
As casas iam borrando junto as árvores na janela do trem.
Próxima estação: Coimbra B.
Chegamos em Coimbra sob uma neblina que cortava nossos rostos como lágrimas de saudade ou da pura inocência das descobertas.
A cidade ia se erguendo sobre um vale, casinhas antigas, ladeiras… Estávamos em casa. Ladeiras soteropolitanas em terras lusitanas. Brasileiros conquistando seus colonizadores...

Não, não é o Pelô. Isto é Coimbra.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Partida (ou Um Trem para as Estrelas)


Para mim, uma viagem começa no arrumar das malas. É quando estamos mais presentes no destino. Ainda não existe a saudade da terra natal, apenas o grande suspense do desconhecido, do estrangeiro.
Minha viagem para Coimbra começou no dia 17 de Agosto de 2010, com o resultado do edital do PLI – Programa de Licenciaturas Internacionais. Foram 21 alunos da UFBA, aprovados dentro de 3 projectos.
Deste dia, estávamos todos no mesmo barco, enfrentando toda burocracia necessária para ingressar em outro país.
E no meio da grande correria, construíamos algo que seria fundamental após o embarque; companheirismo, confiança…
Enquanto um requeria documentos, outro corria em outra fila para outras funções… Sem separações de grupos… uma louca massa de aflitos, curiosos, sobretudo, encantados…
Agradeço o apoio de todos os amigos, de minha família, da coordenação do projecto, dos desconhecidos que educadamente tiravam nossas dúvidas pela rua…
Agora, só necessito fechar os olhos, voar.


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